O mundo mudo

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Roy Lichtenstein, “Ohhh … Alright …”, cropped.

Por Jeffrey McDaniel | Tradução de Caetano Barsoteli

Num esforço para que as pessoas
se olhassem mais nos olhos,
e também para apaziguar os mudos,
o governo resolveu repartir
a cada indivíduo exatos cento
e sessenta e sete palavras, por dia.
Quando o telefone toca, repouso ele em
meu ouvido sem falar oi. No restaurante
eu aponto para a sopa de galinha.
Estou me ajustando bem a esse jeito novo.
Tarde da noite, ligo para o meu amor à distância,
orgulhoso digo Só usei cinquenta e nove hoje.
Guardei o resto para você.
Quando ela não responde,
sei que usou todas as suas palavras,
daí eu sussurro vagarosamente Eu te amo
trinta e duas e uma terceira vez.
Depois disso, nos penduramos na linha
ouvindo o outro respirar.

Retirado de Forgiveness Parade (Jeffrey McDaniel, Manic D Press, 1998).

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